Hoje eu acordei com um gosto amargo na
boca. Não, não é a derrota do Brasil que me deixa desconcertado, é o fato de
que hoje devo voltar as minhas atividades no trabalho. Uma copa do mundo não
foi o suficiente para mudar as coisas, sabia que não mudaria, mas era
importante o Brasil perder para que o resto do país também percebesse.
Churrascos,
camisas caras (pois estavam vendendo a um preço maior que o normal), caras
pintadas, ingressos caros (também), protestos para a não realização do evento,
nada disso poderia amenizar os problemas vividos pelos brasileiros, mesmo que
vencêssemos perderíamos. Pois é assim que vivemos, estamos sempre perdendo,
perdemos quando temos que fazer milagre com um salário mínimo, perdemos quando
temos que acordar muito cedo para poder chegar no nosso emprego na hora, saindo
de casa duas horas antes do expediente começar, quando percebemos que nossos
impostos não são o suficiente para impedir uma greve dos motoristas de ônibus
ou quando estamos em um espaço elitizado e aparentemente seguro e presenciamos
um esfaqueamento pela derrota de nossa seleção e não há o que se fazer, apenas
perdemos e deveríamos estar acostumados a isso: somos perdedores.
E então nas redes
sociais todos tentam mascarar sua revolta com brincadeiras, a imprensa fala em
"derrota humilhante", os heróis tornam-se vilões. Mas que heróis? Que
vilões? No esporte existem adversários e não bandidos e mocinhos, mas ainda
assim precisamos de heróis. Olha só como somos carentes disso, elegemos, ou
fomos compelidos a eleger um time de esportistas, que apenas estão em seu
emprego, ganhando o seu (não importa a quantidade). Como nossos heróis, nossos
salvadores podem apenas bater escanteios, fazer gols e balançar a rede. E
a cada balançada o Brasil vibrava... Éramos salvos? Neste momento não sei dizer.
Mas os nossos heróis também são humanos, não podem voar ou lançar raios, podem
apenas chutar uma bola, são espetáculo, não salvadores, percebemos isso quando
acordamos hoje e temos novamente que nos entregar a correria dos homens e
mulheres reais do nosso país, a correria do trabalho, das lamentações e
frustrações de uma vida injusta, mas que as vezes é prazerosa. Somos
perdedores, talvez por isso sempre saberemos reconhecer e desfrutar
intensamente o doce sabor das nossas vitórias.